Feira do Livro de Pequim é precedida por conferências sobre tecnologia e CTP
PublishNews, Talita Facchini, 17/06/2025
Eventos discutiram o impacto da inteligência artificial e reforçaram a urgência de políticas globais para ciência aberta e tecnologia no subsetor de CTP

PEQUIM, China – A Feira Internacional do Livro de Pequim se prepara para iniciar sua edição de 2025, novamente no Centro Nacional de Convenções da China, mas, antes, realizou nos últimos dias duas conferências para tratar de assuntos internacionais: a terceira edição da PubTech, voltada para discutir questões tecnológicas envolvendo o mercado editorial, e a primeira edição da STM APAC, focada no setor de CTP.

Em comum, as conferências trouxeram panoramas internacionais e citaram mais de uma vez a inteligência artificial: pode ser uma aliada, mas enquanto todos os países não tiverem suas normas e proteções de direitos resolvidas e declaradas, o avanço pode demorar para acontecer.

Na PubTech, dados sobre o mercado de leitura online chinês, que cresceu de RMB 20,48 bilhões (cerca de R$ 15 bi) em 2019 para RMB 43,06 bilhões (R$ 30 bi) em 2024. Com períodos de rápida ascensão, moderação (entre 2021-2023) e novamente aceleração, o segmento registrou, só em 2024, crescimento anual de 6,8%.

Na primeira edição da STM APAC, representantes de governos, editoras, bibliotecas, universidades e instituições científicas de toda a região Ásia-Pacífico se reuniram para discutir os avanços, explorar iniciativas, parcerias internacionais – que incluem o Brasil – e modelos sustentáveis de Open Access (Acesso Aberto; modelo de publicação científica em que os artigos estão disponíveis gratuitamente para qualquer pessoa ler e reutilizar), com destaque para o papel estratégico da região na formulação de políticas globais.

A abertura, conduzida por Madam Lin Liying, presidente da Corporação de Importação e Exportação de Publicações Nacional da China (CNPIEC), enfatizou a importância da inovação e da expansão de parcerias para ampliar o impacto da ciência aberta. Desde que o encontro foi iniciado, em 2022, os organizadores afirmam ter observado um crescimento significativo nos resultados das iniciativas promovidas até aqui.

Yang Wei, da Chinese Academy of Sciences (CAS), destacou a estratégia “global-local” chinesa para a ciência aberta, bem como o papel do país no cenário editorial internacional. Segundo ele, a China já responde por cerca de 30% de todos os artigos em acesso aberto publicados globalmente, número que reflete tanto os investimentos locais quanto a articulação por meio do CCOS – Comitê Chinês para Open Science, alinhado às diretrizes da Unesco.

Em comum, os representantes de países como Índia, Singapura e EUA apresentaram números, compartilharam suas iniciativas e tocaram nos mesmos dilemas: como garantir o acesso efetivo, como lidar com o custo e sustentabilidade e como entrar em consenso quando as políticas e normas dos países relacionadas ao Open Access são diversas e não uniformes, especialmente no que diz respeito à regulamentação da inteligência artificial.

Em vez de acelerar o processo de abertura, a IA tem levado muitos países a adotarem posturas mais cautelosas, atrasando algumas iniciativas devido à ausência de diretrizes claras.

No debate final, “Práticas de Ciência Aberta impulsionadas pela inovação”, os painelistas foram convidados a escolher o fator mais determinante para o futuro da ciência aberta: entre o compartilhamento de dados, avaliação e incentivos, e apoio financeiro, os últimos dois foram apontados como os mais críticos.

Quando se fala na questão financeira, o tema se relaciona com o Brasil. Abordado algumas vezes durante a conferência – por conta das parcerias firmadas nos últimos anos – o Brasil é considerado referência internacional em Acesso Aberto, apesar de enfrentar os desafios do financiamento e visibilidade.

Desde 2021, o país assinou e se comprometeu com os princípios da ciência aberta promovidos pela Unesco. O país também participa da plataforma latino-americana de repositórios científicos abertos. Além disso, durante a cúpula do G20 realizada no Brasil em novembro de 2024, China e Brasil, junto com África do Sul e a União Africana, lançaram oficialmente a “Initiative on International Cooperation in Open Science”.

Em meio a essas reflexões, a conferência destacou a urgência de superar barreiras linguísticas, promover a transparência na operação dos periódicos e fortalecer os periódicos locais e independentes. A próxima edição da STM Conference já tem sede definida: acontecerá em Frankfurt, em outubro, sinalizando a continuidade do diálogo entre o Oriente e o Ocidente sobre o futuro da comunicação científica.

*A jornalista viajou a convite da CNPIEC.

[17/06/2025 05:00:00]