O que estou lendo: Diogo Santana
PublishNews, Beatriz Sardinha, 27/05/2025
Vencedor da categoria de Livreiro do Ano do Prêmio Catavento PublishNews de 2025 recomenda livro de contos sobre a capital do Líbano

No início de maio (7), Diogo Alves da Conceição Santana, da Livraria Córdula, no Rio de Janeiro, foi o vencedor da categoria Livreiro do Ano do Prêmio Catavento PublishNews.

Diogo iniciou sua carreira na Livraria da Travessa, em 2011, na função de estoquista. Um ano depois, tornou-se livreiro nas filiais de Ipanema, Sete de Setembro e CCBB, no Rio. Em 2019, começou a sua trajetória na livraria da UERJ, e, em paralelo, desenvolveu o projeto de uma livraria itinerante – a Livraria Córdula – até que, em 2025, decidiu assumir integralmente o projeto.

O PublishNews perguntou a Diogo o que ele está lendo e esta foi a resposta:

"A vida não é uma linha reta e a literatura constitui a mais autêntica descrição da experiência humana que atravessa as sinuosas curvas do tempo, do espaço, da subjetividade, das cidades. Assim se estabelece, de maneira inevitável e tediosamente, o enredo de muitos romances. Entretanto, a paixão do leitor que enaltece seus grandes autores se justifica no encontro entre eles de seus dramas e alegrias, conflitos e amores, dores diversas, prazeres diversos e o lirismo próprio da linguagem de muitos corações que se entendem. Entre eles, destaco o conjunto de contos Beirute Noir, organizado por Iman Humaydan e publicado pela editora Tabla no Brasil.

Qual a relação entre a baixada fluminense, região periférica do Rio de Janeiro e a cidade de Beirute, no Líbano? Iman Humayadan escreve na quarta capa: “é uma cidade de contradições e paradoxos. É uma cidade urbana e rural, de violência e perdão, de lembranças e esquecimento". Ao se referir a Beirute descrevia também o chão por onde tocam meus pés e oficio numa pequena livraria como livreiro: a livraria Córdula.

A identificação foi imediata, entretanto, seria exaustivo para uma breve resenha descrever todos os quinze contos ali reunidos. Em A Eternidade e a Ampulheta Hyarn Yared escreve como o impacto do trauma paralisa o tempo dentro de nós além dos nossos corpos. Esse eterno agora de silêncio e dor que da maneira mais equivocada pode ser interpretado como uma saudade doída, mas que expõe em seu trágico final os bastidores de uma família que julgaríamos comum a todas as outras. Em Sob a árvore da melancolia, de Naiwa Barakat, novamente o trauma é retomado a partir do corpo que se diminui inteiramente a um olho cuja visão é reduzida a mais absurda das cenas. É na transformação traumática desse corpo em olho que me lembrei de Kafka. O que me surpreendeu nesses contos foi justamente a noção de como o absurdo kafkaniano pode estar mais perto da realidade do que gostariamos.

Em Dentes sujos, uma noite de prazer em bordéis e bebedeira se transforma numa reflezão teológica que me recorda "Jó, romance de uma homem simples" de Joseph Roth, cujo ápice conduz um condenado à redenção, dependendo sempre de quem está olhando a cena.

O desejo, o amor e a morte, a loucura e a solidão das cidades. Poderia ser qualquer uma delas? Não! É Beirute e eu me senti inteiramente conectado a ela."

Beirute noir
Autor: Iman Humaydan (org.)
Tradutor: Pedro Martins Criado
Editora: Tabla
ISBN: 978-6586824063
Páginas: 352
Preço: R$ 53

[27/05/2025 10:00:00]