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O amor que se escolhe: sobre 'O filho que eu quero ter', de Gisele Fortes
PublishNews, Vanessa Passos, 09/05/2025
Em novo texto, Vanessa Passos compartilha comentários e sua resenha sobre o livro 'O filho que quero ter', de Gisele Fortes

Luiza sangra em silêncio. Casada com um homem que aprendeu com a dureza a confundir controle com cuidado, filha de pais que repetem, sem pensar, o mantra da obediência como salvação, ela vive enclausurada numa bolha sem nome, feita de deveres, aparências e silêncios herdados. Mas é no corpo, esse território de guerra e revelação, que a primeira rachadura se anuncia. A infertilidade, palavra que nunca coube bem na boca das mulheres, desaba sobre ela como sentença, como falha, como culpa que não é sua, mas que todos querem que seja.

Gisele Fortes | © Divulgação
Gisele Fortes | © Divulgação
A partir daqui, Gisele Fortes escreve com lâmina e afeto. Em O filho que eu quero ter, a autora não entrega apenas uma narrativa sobre maternidade: ela rasga o véu da idealização para revelar a mulher atravessada por ela.

Luiza encontra em Dudu, menino de olhos vivos e riso largo, a faísca de um amor que não precisa nascer do útero para ser visceral. E é nesse encontro, abrupto e cheio de ternura, que a protagonista desce do mundo como o conhecia. Porque amar um filho negro, em um mundo ainda tão branco e estruturalmente racista, é também declarar guerra a esse racismo que habita dentro e fora de casa. Porque escolher a maternidade fora da rota biológica é afirmar que o sangue não basta, e que o amor é, sim, um ato político.

O livro é um mergulho delicado em temas urgentes: violência simbólica, imposições sociais, racismo estrutural, o desejo como resistência. Gisele Fortes costura as cenas com um lirismo sem excessos, uma coragem sem panfleto. A autora aposta no corpo como escritura, e na escrita como grito.

No fim, O filho que eu quero ter não é só sobre Luiza. É sobre todas as mulheres que ousaram quebrar o script, dizer não aos moldes prontos, e reescrever, com dor e ternura, o que significa ser mãe.
E talvez o gesto mais revolucionário de Luiza não seja amar Dudu, mas decidir, enfim, amar a si mesma.

O filho que eu quero ter, de Gisele Fortes
Editora: Grupo Editorial Caravana
Páginas: 144


Vanessa Passos é escritora, roteirista, professora de escrita criativa, doutora em Literatura (UFC) e pós-doutora em Escrita Criativa (PUCRS), sob orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil. É idealizadora do Programa 321escreva, do Método Mais Vendidos e do Encontro Nacional de Escritoras. Lidera uma comunidade de escritoras que tem voz em mais de 9 países, orientando centenas de escritoras a escrever, publicar e divulgar seus livros. Autora do volume de contos A mulher mais amada do mundo (2020). Seu romance de estreia A filha primitiva foi vencedor do Prêmio Kindle de Literatura (2021), do Prêmio Jacarandá (2022), do Prêmio Mozart Pereira Soares de Literatura (2023) e vai ser adaptado para o cinema pela Modo Operante Produções, agora publicado pela José Olympio. É colunista do Jornal O POVO e do PublishNews. Nas redes sociais, a escritora pode ser encontrada no perfil: @vanessapassos.voz.

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