
Nesta quarta-feira (9) uma roda de samba vai acontecer após a conferência de abertura do escritor e historiador Luiz Antonio Simas sobre o homenageado desta edição, João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto, 1881-1921). A conferência começa 19h30 e a apresentação do grupo Samba da Bênção é às 21h, no Auditório da Praça.
"A Flip sempre surpreende ao propor encontros entre quem escreve e quem lê em um ambiente desenhado para inspirar as pessoas", comenta o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz. "É sempre um momento de alegria, de experiências inesquecíveis, e de abertura para ver o mundo através de olhares literários e artísticos. Esperamos que a Flip continue sendo uma experiência de transformação de imaginários, contribuindo para que a vivência desta cidade mais aberta e acolhedora durante os cinco dias da festa possa inspirar pessoas a continuar lutando pelos ideais democráticos através da universalização do acesso à arte e à cultura".
Além das mesas do programa principal – sob a curadoria da editora Ana Lima Cecílio –, há a programação da chamada Flip+, que inclui a Casa da Cultura, Cinema da Praça, Casa Flip+CCR, Auditório da Praça e Auditório do Areal. Sessões de cinema, mesas literárias, lançamentos de livros e conversas sobre produções contemporâneas dão o tom dessa agenda. O Programa Educativo – que inclui uma série de ações na cidade ao longo e as programação da Flipinha e FlipZona – também continua ativo.
Mais abaixo, o PublishNews separou algumas indicações das diversas programações que estarão disponíveis para quem estiver em Paraty.
Já nesta quarta-feira (9), alguns editores manifestaram - em caráter reservado - incômodos com a localização das editoras independentes no novo espaço do Areal, que fica do outro lado da ponte em relação ao Centro Histórico. As barracas reservadas para as editoras venderem seus livros ficam localizadas no final de um “corredor”, paralelo ao Rio Perequê-Açu. Existe um temor de que a disposição do espaço – que começa com o Palco do Areal, passa por barracas de vendedores de itens diversos, e chega no espaço das editoras – não estimule a visitação dos leitores até aquela área. São 31 casas editoriais e coletivos no espaço.

Diversas editoras também aproveitaram a ocasião, como é de praxe, para elaborar novas edições dos livros do autor homegeado.
Uma das editoras que se destaca nesse trabalho é a Carambaia, cuja diretora editorial, Graziella Beting, estudou a vida e a obra de João do Rio para sua pesquisa de mestrado e doutorado (Universidade Paris II), entre 2007 e 2014. O lançamento mais recente é Gente às janelas, edição especial com crônicas raras do autor.
A Elo Editora vem com um lançamento curioso: Memórias de um rato de hotel, assinado também por certo Dr. Antônio. Pseudônimo de Arthur Antunes Maciel, ele foi um célebre ladrão da virada do século XIX para o século XX, conhecido por andar sempre bem-vestido e estudar com cuidado os hábitos de hóspedes de hotéis no Rio para roubá-los. Daí o apelido “rato de hotel”. Foi preso em 1911, quando passou a narrar suas aventuras a um jornalista.
Essas memórias foram então publicadas em 39 capítulos no jornal carioca Gazeta de Notícias, sem que o jornalista fosse identificado. Mais tarde, em 1912, foram registradas em livro assinado por Dr. Antônio, numa edição que permaneceu esquecida por longos anos até ser descoberta por acaso, num sebo, e identificada como uma obra do jornalista e escritor João do Rio. Nesta edição, a editora disponibiliza o texto integral e um prefácio em que a bibliófila Anna Dantes conta a história de sua redescoberta, além de fotos de época.
Já a José Olympio convidou Luiz Antonio Simas para compor uma edição comentada de A alma encantadora das ruas, talvez o livro mais conhecido de João do Rio, publicado originalmente em 1908. A Civilização Brasileira, também do Grupo Editorial Record, preparou uma nova edição de João do Rio: Vida, paixão e obra, de João Carlos Rodrigues – o jornalista, aliás, reclamou de não ter sido convidado para a programação oficial da Festa.
A Chão Editora preparou o volume O fim do maxixe: João do Rio e outros pseudônimos de Paulo Barreto, com 31 crônicas inéditas em livro, escritas entre 1903 e 1922. Assinados por João do Rio, X., Joe, José Antonio José e Paulo José, os textos foram selecionados pela historiadora Juliana Bulgarelli e oferecem, em conjunto, “uma rica interpretação da dinâmica e das características da vida moderna que se consolidava e de diferentes representações da modernidade”.

Pioneiro como repórter, criou um estilo de texto híbrido de literatura e reportagem, ficção e realidade. Mudou o modo de fazer jornalismo, fundando a crônica moderna. Na sua observação das ruas e do povo, fez coro com pensadores da passagem do século XIX ao XX que tinham a cidade como centro do pensamento, refletindo sobre o progresso, a velocidade, a formação urbana e toda a dor e a delícia dessa convivência.
O escritor que conquistou uma vaga na Academia Brasileira de Letras aos 29 anos era um personagem múltiplo: fascinado pelos salões da alta sociedade, dividia com o século a reverência por Paris e por um ideal de vida “civilizada”. Ao mesmo tempo, foi o primeiro jornalista a subir o morro ouvindo com atenção e afeto a voz das ruas, tornando-se uma espécie de porta-voz de um povo que não tinha espaço na imprensa.
Quando deixa a redação do jornal para subir vielas, acompanhar manifestações culturais, observar de perto os hábitos de uma cidade que se transformava vertiginosamente, João do Rio fundou um modo de fazer jornalismo, numa espécie de etnografia, revelando ao leitor do jornal uma cidade que lhe era desconhecida.
Ao mesmo tempo leitor atento e receptor das modas europeias, foi um fino cronista da Belle Époque carioca, narrando os salões e recepções elegantes da alta-roda – a elite que tentava se sofisticar e imitar os estrangeiros.
João do Rio percorreu o mundo, colecionou admiradores e desafetos. Gordo, mestiço e homossexual, vestia-se como um dândi, arrumava brigas e nunca passava desapercebido. Vítima de um ataque cardíaco que o impediu de completar 40 anos, ele deixou 25 livros e mais de 2,5 mil textos publicados em jornais e revistas.
Curadoria da Flip
Ana Lima Cecilio é a curadora da 22ª edição da Flip. É formada em Filosofia pela USP. Trabalhando há 20 anos no meio editorial, foi editora da Carambaia e do selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, onde foi responsável por trazer ao Brasil importantes autores, como Elena Ferrante, que virou febre entre os brasileiros. Além de Samuel Beckett, Balzac, Aldous Huxley e Hilda Hilst – de quem editou Fico besta quando me entendem e Pornô chic. Trabalhou nos últimos anos como curadora da livraria online Dois Pontos.
Roda de samba de abertura
A roda de samba ocupa este ano o lugar da tradicional apresentação musical que sucede a primeira mesa da Flip. Fundado por músicos locais, o grupo paratiense realiza apresentações semanais em Paraty desde 2016, promovendo experiências interativas que unem dança, performance e ritos, em uma mescla do sagrado com o profano. Com um repertório diversificado que inclui sambas clássicos e composições próprias, o grupo busca preservar a cultura do samba, mobilizando a comunidade e enriquecendo a experiência dos visitantes na cidade.

Roda de samba: Samba da Bênção
Quarta-feira, 9 out às 21h, no Auditório da Praça
Sugestões do PublishNews para a programação das casas parceiras da Flip 2024:
- Toda a programação da Casa PublishNews, claro.
- Quarta-feira (9), 18h – Leitura de trechos de Viela ensanguentada, romance de Wesley Barbosa, pelo ator Pedro Cardoso. Após a leitura, o ator e o escritor fazem um bate papo. Casa da Favela
- Quinta-feira (10), 9h30 – "Afinal, o que é ficção cristã? Como autoras estão tornando o gênero um sucesso no Brasil", com Sara Gusella e Milena Lourenço. Casa Escreva, Garota!
- Quinta-feira (10), 10h — Encontros Megafauna. Podcast Livros no Centro: gravação do episódio. Boa noite, Paraty! Com Flávia Santos, Irene de Hollanda e Rita Palmeira. Casa Sete Selos. Casa Sete Selos+ Gama, Megafauna e Supersônica.
- Quinta (10), 11h – Lançamento de O Turista Aprendiz: a nova edição do clássico diário de viagem de Mário de Andrade, pela Tinta-da-China Brasil, será tema de um bate-papo com Flora Thomson-DeVeaux, tradutora do livro para o inglês e responsável pelo texto de apresentação da reedição da obra, e o jornalista Fernando Luna. Livraria das Marés.
- Quinta (10), 14h – Mesa “Afetos”, que irá abordar as relações afetivas na literatura e seus reflexos nos escritores e leitores, com Pedro Jucá, Lorena Portela e Taylane Cruz, e mediação do Pedro Azevedo, curador da Estante Virtual. Casa Estante Virtual
- Quinta (10), 14h – “Edição, tradução e as múltiplas vozes da literatura latino-americana”, com Mariana Sanchez, Thiago Tizzot e Andre Barcinski. Sesc Santa Rita
- Quinta (10), 14h –“O amor na psicanálise e literatura”, com Liana Ferraz, Carol Tilkian, Paula Gicovate e Renata Piza. Casa Escreva, Garota!
- Quinta (10), 18h – Fé e política no Brasil hoje, com Frei David, Chico Alencar, Alexandre Santini, Monica Francisco, e Alessandra Ribeiro, com mediação do professor e pesquisador da UERJ e da PUC-RJ, Adair Rocha. A ação é uma parceria da FCRB com a Agência de Notícias das Favelas, idealizadora do espaço Casa da Favela. Local: Palco do Areal
- Sexta (11), 12h – João do Rio - Jornalismo, literatura e imortalidade. Participantes: Eliana Alves Cruz, Rosiska Darcy de Oliveira e Graziella Beting. Casa da Cultura
- Sexta (11), 14h – Daniela Arrais, Clarice Freire e Bethânia Pires Amaro – Mulheres e o tempo da coragem – mediação: Simone Magno. Casa Record
- Sexta (11), 16h – “Saramago 100”, com Pedro Matias, José Luís Peixoto e Rafael Gallo. Casa Portugal: Livros e Sabores
- Sexta (11), 18h30 às 19h30 – Newsletter e o novo espaço para escrita online: Bárbara Bom Angelo, Camila Perlingeiro, Surina Mariana e Taís Bravo (conversas). Casa Libre
- Sábado (12), 11h – “Clarice Lispector: Estudando e escrevendo”, com Tatiany Leite e Melina Dalboni, com mediação de Pedro Azevedo. Casa Estante Virtual
- Sábado (12), 12h – 12h – Novos imaginários para a literatura negro-brasileira - Jhô Ambrosia, Pedro Machado, Ronald Lincoln e Vagner Amaro. Casa Malê
- Sábado (12), 12h30 – "Entre Versos e Marés: Narrativas Negras de Poesia, Resistência e Ancestralidade", com Tatiana Nascimento, Viviane de Paula e Helen Araujo e Angela DaCor. Casa Poéticas Negras
- Sábado (12), 15h – “Ele é funcionário”, com Stênio Gardel e Bruno Barbosa. Casa República
- Sábado (12), 19h – 19h - A família como território de desterro: Lisa Ginzburg e a criação de um léxico familiar contemporâneo, com Lisa Ginzburg, Simone Paulino. Mediação Gabriel Pinheiro. Casa Paratodos
Veja a lista completa de Casas Parceiras da Flip 2024:
- Alta Books
- Bazar do Tempo
- Caravana
- Casa da Favela
- Casa da Marinha
- Casa Paratodos
- Casa Poéticas Negras
- Casa Utopia
- Coletivo Escreva Garota!
- Edições Candido
- Editora Patuá
- Editora Urutau
- Estante Virtual
- Folha de São Paulo
- Grupo Editorial Record
- Janela
- Livraria das Marés
- Muvuca Livraria
- PublishNews
- Republica.org
- Tyiwaras Tikunas
- Visite Portugal
- Casa Libre
- Igreja
- Casa Pagã
- Sebrae
- CCR
- SECEC (cultura e criativo)
- Biblioteca Cembra
- Editora Malê
- Iphan