Reflexões sobre a medicalização da existência
PublishNews, Redação, 10/09/2024
Mariama Furtado problematiza o assunto e reflete sobre a medicalização destituir o próprio sujeito daquilo que diz respeito à sua singularidade

A sensação de cansaço persistente, a ansiedade diante das situações mais corriqueiras, a evitação do contato social são algumas das agruras cotidianas relatadas em consultórios e a saúde mental nunca foi tão patologizada. Diante desse quadro, o uso de antidepressivos está entre os processos de medicalização mais praticados como forma de lidar com o sofrimento. Esses e outros argumentos motivaram a pesquisa apresentada no livro O lugar do sofrimento na cultura contemporânea – Reflexões sobre a medicalização da existência (Summus Editorial, 144 pp, R$ 58,90). Nele, a análise dos diagnósticos psiquiátricos nos dias atuais é assunto tratado com profundidade pela psicóloga Mariama Furtado, numa leitura indicada não somente para profissionais da área de saúde, convidando o leitor a reflexões e questionamentos. A obra aborda o crescente interesse pelos processos de medicalização da existência. O sofrimento, os desânimos, as simples manifestações da dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta no bem-estar como meta. Num contexto que exalta os valores ligados à eficiência, à produtividade, ao bem-estar e à felicidade, o sofrimento passa a ser visto como uma patologia que precisa ser corrigida. Assim, um processo de contínua expansão dos diagnósticos vem trazendo para o campo da psicopatologia comportamentos, emoções e estados subjetivos anteriormente experimentados e concebidos como parte da condição humana, de modo que cada vez mais pessoas se tornam potencialmente portadoras de algum transtorno. Constatando esses fenômenos tanto na clínica quanto no campo da pesquisa, Mariama Furtado problematiza o assunto e mostra que, ao tentar suprimir o sofrimento da experiência da vida, a medicalização acaba destituindo o próprio sujeito daquilo que diz respeito à sua singularidade e da possibilidade de instituir formas autênticas e criativas de viver.

[10/09/2024 07:00:00]